Lançado recentemente em São Paulo, "Marino da Sonhadora", quadrinho de Carlos Eduardo e Federico de Aquino conta as aventuras de um canoeiro na década de 1940 no baixo São Francisco.
por Redação (Canoa de Tolda/Redação)
"Canoeiro de barra a barra, filho, neto e bisneto de mães e filhas de santo pelo lado materno. Corpo fechado, protegido de Oxum e também de cangaceiro famoso, aventureiro, dominava artes marciais (“uma arte que mestre Wu me passou, Vin Tsun Kuen”, explicou), bom na faca, mas cabra de paz, viajante (“andejo”, preferia), desenhista, namorador de muitas paixões beiradeiras, sertanejas, praieiras, costeiras". Assim é descrito o personagem protagonista do quadrinho “Marino da Sonhadora”, lançado em novembro no Butantã Gibicon, em São Paulo.
O livro, assinado por Carlos Eduardo Ribeiro Júnior e Federico de Aquino, inaugura o selo Edições da Canoa, da entidade sem fins lucrativos Canoa de Tolda, instituição fundada em 1998, que atua no baixo São Francisco, em Sergipe e Alagoas em causas socioambientais e de direitos humanos. O selo é voltado para publicações culturais, educacionais e científicas focadas na região.
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Idealizador do projeto e roteirista, Carlos Eduardo também é presidente do Cano de Tolda e coordenou o restauro da tradicional canoa de tolda Luzitânia (de porte semelhante ao da Sonhadora, de Marino), cujos registros orais de sua construção datam dos anos 1920. Foi a partir desse trabalho com a Luzitânia e das histórias das navegações nessa região que surgiu o projeto de “Marino da Sonhadora”.
Luzitânia, canoa de tolda que deve ter sido construída nos anos 1920, inspirou quadrinho e foi tombada pelo IPHAN em 2010. Fotos: Nilton Souza
Contar as histórias do grande canoeiro foi uma forma escolhida para falar de uma região desconhecida da maior parte dos brasileiros. Quando o canoeiro Marino da Sonhadora relata suas aventuras, fala das gentes do baixo São Francisco, seus modos de vida, sua rica cultura e suas histórias”
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Carlos Eduardo, presidente da Canoa de Tolda
A sensibilidade do artista visual Federico de Aquino ilustra esse universo do ribeirinho, do canoeiro, dos costumes dos povos são-franciscanos. Autor da publicação Bordejo, sobre os saveiros baianos, ele viajou durante vários dias a bordo da Luzitânia entre a foz do Velho Chico e o alto sertão. Daí ele encontrou a inspiração para compor os ambientes desse canoeiro de margem, mas também aventureiro, assim como seu pai, que não negava um embarque para outros portos, seja onde fosse. A vontade de conhecer o mundo, navegar por outras águas era grande desde menino.
O enredo
A história do Marino da Sonhadora é ambientada no início dos anos 40 do século vinte, época da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, após o afundamento de vários navios brasileiros pelo submarino alemão U-507, nos litorais de Sergipe e da Bahia. Foram eventos que causaram impacto nas cidades e comunidades do baixo São Francisco próximas da foz.
Numa região até então ainda extremamente isolada do resto do Brasil e do mundo, as ramificações dos efeitos da guerra se faziam notar pelos mais variados personagens que circulavam pelo porto de Penedo (AL), porta de entrada para as diversas brenhas do Brasil.
Marino da Sonhadora, o mais jovem canoeiro da margem - nem por isso pouco experiente - viverá, junto com seu inseparável companheiro Cascabulho, uma inesperada e atribulada aventura ao se envolver em um episódio diretamente relacionado com a guerra paralela, subterrânea, que se desenrolava por diversos lugares do mundo, fora dos cenários onde aliados e as forças do Eixo se enfrentavam.
O esquecido baixo São Francisco, localizado no (na época) quase deserto e longo trecho de costa inóspita entre Salvador (BA) e o Recife (PE), ofereceria condições ideais para que aventureiros de outros lugares, com objetivos os mais diversos, aqui se instalassem.
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Mapa e período da navegação contextualizam o espaço explorado pelo canoeiro aventureiro. Ao lado e acima, capa e página com a história da navegação da época. Imagens: Divulgação
Pela sua experiência, pelo conhecimento perfeito que tinha da navegação entre a foz do rio e o alto sertão, a grande carreira do baixo São Francisco, Marino foi contatado por soturno agente europeu para uma não menos estranha e secreta missão. A bizarra proposta, com objetivos desconhecidos, posto que secretos, uma vez relacionados “à segurança dos países aliados envolvidos na guerra...”, segundo o agente, seria encarada por Marino como mais um desafio para seu espírito aventureiro: “meu negócio era navegar, estar ali, na popa da canoa, com tempo bom, tempo ruim, a refrega arrochando... e, não vou dizer que não era um frangote com ousadia...”.
No xangô de Pai Zuza, no alto do Oiteiro da velha cidade do Penedo, os búzios falaram: “tem coisa pela frente...”.
Mesmo tendo o entendimento dos inúmeros riscos, Marino embarca na missão, não sem antes tomar suas precauções... No entanto, as dúvidas persistem, mas, uma vez deixado o porto, não há volta para a canoa, que tem que seguir pelas carreiras do rio, vida de canoeiro da margem.
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SERVIÇO
Marino da Sonhadora (Edições da Canoa - 2022) - De autoria de Carlos Eduardo Ribeiro Júnior e Federico de Aquino, quadrinho tem formato 22,5 x 30 cm, 88 páginas com impressão em preto monocromático sobre papel pólen, das quais nove páginas de encartes em cor. A capa, tipo brochura em papel triplex. Preço (sem frete): R$ 60. Informações: canoadetolda@canoadetolda.org.br